terça-feira, 15 de abril de 2014

Duda ganha elogios e status de 'gente grande'






vôlei de praia Duda Salvador (Foto: Helena Rebello)

Após o último ponto, a emoção e o cansaço foram tão grandes que as pernas cederam. Ali, sentada na areia, Lili recebeu o abraço de Duda. Com apenas 15 anos, a sergipana compartilhou com a capixaba seu sorriso de menina, largo pela conquista do primeiro pódio da carreira entre profissionais. Com o nome gritado pela torcida e uma série de elogios da companheira e da comissão técnica, Duda mostrou ao Brasil que, pelo menos dentro de quadra, ela não é mais uma criança.

Derrotadas na estreia do Super Praia por Maria Clara e Carol, Lili e Duda fizeram uma campanha de recuperação. Com duas vitórias – uma delas sobre Juliana e Maria Elisa -, elas avançaram às semifinais de um torneio nacional pela primeira vez juntas. Não resistiram à Talita e Taiana, mas ergueram a cabeça para a disputa pelo terceiro lugar. Novamente, tiveram as irmãs cariocas pela frente.

Apesar do forte calor na arena montada na Praia da Armação, em Salvador, ninguém se poupou. Maria Clara e Lili solicitaram atendimento médico, mas seguiram firmes no jogo. No fundo de quadra, Duda esbanjava energia catando bolas em defesas improváveis. Assim, conquistou o público a seu favor. Quando a conquista foi selada, a alegria se dividiu com a ciência de que um novo patamar esportivo foi alcançado.

- É uma felicidade muito grande, imensa por uma meta cumprida. Nós aos poucos fomos evoluindo e gora conseguimos. Estou muito feliz, gostei muito daqui, uma energia muito boa. Tenho que agradecer à minha parceira, que sempre esteve ao meu lado, à minha família, a Deus... Eu tenho 15 anos, mas eu acho que não pareço ter essa idade em quadra. Eu tenho que ter atitude para fazer as coisas, porque idade não é documento. O importante é a força de vontade dentro da quadra, e o querer é o principal. Agora estamos tendo muita união, e isso é o que importa. Estou muito feliz.

A parceria com Lili foi firmada no início deste ano. A capixaba jogava com Rebecca e havia disputado o título da temporada 2012/2013 até o fim com Ágatha e Bárbara Seixas. Mas uma gravidez inesperada da cearense mudou os planos de todos radicalmente. Junto com o técnico Élmer Calvis, Lili tomou a decisão de mais uma vez apostar em um jovem talento.

Como o título do Circuito Brasileiro 2013/2014 tornou-se inalcançável com a troca de parceria, o planejamento da dupla a curto prazo foi todo montado para o Super Praia. Duda trocou Aracaju por Fortaleza, deixou os estudos em segundo plano e apostou no projeto. Nos primeiros Opens que disputaram, a parceiras foram se ajustando, e a menina foi crescendo. A cada pancada que levava, foi aprimorando sua técnica e, sobretudo, sua resistência psicológica.

- No começo sabíamos que ela ia sentir um pouco, porque ela saiu de uma categoria em que ela era supercampeã para uma categoria onde todo mundo ia miná-la, isso era um fato. Só que ela é muito bem criada. O que a Cida (mãe e ex-jogadora) ensinou para ela como pessoa facilita muito. A Duda é uma excelente jogadora, não é mais um futuro, e já está aí passando por coisa que os adultos passam. É uma garota que escuta, que te respeita o tempo todo. Fica fácil dirigir deste jeito. Não é uma jogadora com vícios, para quem você fala algo e ela te contesta. Ela foi para Fortaleza, ficou três meses lá, e nós aprendemos também muito com ela em relação à postura – disse o treinador.

Lili engrossa o coro. Medalha de bronze no Mundial de 2013, a jogadora mostra muita paciência em quadra quando a jovem parceira falha ou cede à pressão e a vê muito disposta a aprender. Tanto que releva quando surge alguma discussão durante a partida, sempre pensamento no processo de formação de Duda enquanto atleta.

- Eu entendo porque já passei por isso. Sei que tem momentos em que ela fica mais tensa, às vezes fala um pouco mais alto, mas é com ela mesma. Sei que não é comigo. Aí tento dar tranquilidade para ela, baixar um pouquinho a poeira para a gente ter tranquilidade para pensar no jogo, e não ter algum tipo de picuinha ou coisa ruim. Do nosso lado da quadra não pode ter energia ruim, a gente tem que focar junto para ficar com força total contra o outro time. Às vezes uso um pouquinho de psicologia, do que já passei e da experiência que eu tenho para passar para ela. Quero o melhor para ela, e assim vamos crescer como time. (...) Estou muito feliz por mim, é claro, mas muito feliz mesmo pela Duda. É a primeira vez que ela vai para uma semifinal, que ela vai para o pódio, então é muito gratificante poder fazer parte da história de outra pessoa. Estar com ela no primeiro pódio da vida, para mim é uma sensação maravilhosa.

Nesta semana, Duda se apresenta no Centro de Treinamento de Saquerema, onde treinará com as seleções de base sob o comando de Reis Castro, técnico heptacampeão do Circuito Mundial com Juliana e Larissa. Em duas semanas, a sergipana reencontra Lili para a disputa da primeira etapa do Circuito Challenger, em Bauru. A competição será de 24 a 27 de abril.