segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Letícia Pessoa colhe frutos de "CT olímpico"






 

Os atletas de ponta do vôlei de praia comumente possuem um treinador exclusivo, dedicado em tempo integral à preparação da parceria. A vontade de trabalhar com Letícia Pessoa, porém, mudou esta lógica para duas duplas olímpicas do Brasil. Pelo sonho de disputar dos Jogos do Rio 2016, Ricardo/Emanuel e Juliana/Maria Elisa dividem o tempo e as atenções da treinadora em um trabalho conjunto e diferenciado. No mesmo centro de treinamento, os veteranos e as atuais líderes do ranking mundial compartilham experiências e se unem pelo próprio sucesso e pelo da mentora. E os primeiros frutos já foram colhidos. Desde que o "CT olímpico" passou a ser base da grande equipe, foram conquistados quatro pódios em duas etapas do Circuito Brasileiro da modalidade.

Volei de praia equipe leticia pessoa (Foto: Arquivo Pessoal)


Como treinadora do feminino, Letícia conquistou duas pratas olímpicas treinando Adriana Behar e Shelda. Desde 2009, no entanto, a técnica trabalhava somente com atletas do masculino, tendo como principal resultado mais uma prata olímpica para a coleção, desta vez orientando Alison e Emanuel em Londres. O currículo recheado de títulos deu à treinadora o respaldo para assumir a coordenação da seleção masculina, mas quando o projeto da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) chegou ao fim, Letícia ficou por um momento sem saber do futuro. Até que uma mensagem de Maria Elisa a fez "retornar às origens".

- No início do ano eu comecei a sentir um carinho especial por elas e a torcer informalmente. Quando a seleção terminou, eu não tinha a mínima ideia, e a Maria me convidou para trabalhar com elas. Eu não queria sair do masculino, mas senti aquela afinidade com elas e senti que o feminino nunca saiu do meu sangue. Não quero largar o masculino, mas elas amenizaram muito minha vida. Eu fiquei mais maleável, e essa mistura ficou mais a minha cara. Eu tinha endurecido muito, e quando entraram elas, o coração começou a pensar também.

O trabalho começou no dia 27 de maio e, de lá para cá, Juliana e Maria Elisa assumiram a liderança do ranking mundial. Tudo caminhava bem quando Letícia recebeu mais uma proposta tentadora. Após cinco anos de separação, Ricardo e Emanuel retomaram a parceria campeã olímpica e a convidaram para assumir a frente do trabalho. Em comum acordo das partes, a treinadora aceitou cuidar dos dois projetos simultaneamente.

Usando como base um clube na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Letícia montou uma estrutura digna de campeões para seus comandados. Ao todo, a equipe conta com 11 profissionais entre auxiliares técnicos e braceiros (que ajudam nas repetições dos movimentos com bola), estatístico, nutricionista, preparador físico, psicólogo, fisiologista e um supervisor.

- O principal é que a Letícia acredita na gente mais do que qualquer outra pessoa. E eu e a Juliana acreditamos muito nela e respeitamos tudo o que ela fala. Isso faz com que a gente tenha mais tranquilidade na vida e no treino. Quando sai do treino que a gente tem certeza que teve o melhor, e a gente tem vontade de dar o nosso melhor no dia a dia. Ao mesmo tempo a Leticia formou uma equipe muito boa, com profissionais experientes, que já erraram bastante, que já acertaram muito. Vou pra minha casa despreocupada, porque ela cuida de tudo, ela marca médico, consulta... É praticamente uma mãezona e vestiu a camisa desse time como eu nunca vi ninguém vestir – disse Maria Elisa.

Para Juliana e Ricardo, o trabalho com Letícia visando os Jogos de 2016 representou também uma mudança drástica no estilo de vida. A santista deixou Fortaleza, onde morava desde que se profissionalizou, enquanto o baiano mudou-se de João Pessoa, onde estava radicado há 17 anos. Apesar das dificuldades iniciais de adaptação, o bloqueador acredita que o investimento no projeto vai recompensá-lo.

- Para mim está sendo uma luta. Tenho minha família, meus filhos em João Pessoa, estou nessa ponte aérea, que na verdade é uma ponte bem distante. Está sendo difícil neste começo, mas é um desafio. É um ponto que faz com que queira mais ainda. Essas dificuldades servem como incentivo. A Letícia é uma técnica muito experiente, já vivenciou várias Olimpíadas. Tenho certeza de que essa divisão não atrapalha nem a elas e nem aos atletas. E para nós é muito bom poder conviver com outros atletas. Essa troca é muito bem vinda e nos ajuda a descontrair um pouco, ter um sentimento de equipe ao torcer pelo sucesso do outro.

vôlei de praia Letícia Pessoa e Ricardo  (Foto: Helena Rebello)


No dia a dia, Letícia treina primeiro Juliana e Maria Elisa, e depois trabalha com Ricardo e Emanuel. Nos jogos, corre de uma quadra para a outra para poder orientar as duas duplas, mas caso os horários coincidam, prioriza as partidas femininas devido à maior experiência dos veteranos campeões olímpicos. Feliz com os bons resultados obtidos até o momento (no Brasileiro, um título e um vice de Ricardo/Emanuel, e um vice e um 3º lugar e de Ju e Maria) a treinadora espera honrar a oportunidade e voltar ao cenário olímpico em dose dupla.

- Eu vejo que tenho uma responsabilidade muito grande, assim como eu tinha na seleção. Eles depositaram uma confiança em mim muito grande, e se eu fazia 100%, agora tenho que fazer 200%. Quero retribuir a confiança que eles tiveram em mim, principalmente porque nenhum dos dois times precisava dividir técnico, poderia ter um técnico cada um. Como eles escolheram mesmo assim estar comigo, acho que minha responsabilidade aumentou. Vou fazer sempre o meu máximo para que eles mostrem todo o potencial e saiam vencedores.